Saturday, September 29, 2007

sabes as regras não podes dizer .a perda. dizer .a perda. é perder duas vezes

sabes as regras .a perda. um homem não pode perder duas vezes .a perda.

sabes as regras podes brincar não podes dizer podes podes dizer a perca

sabes as regras .a perda. baixinho como se estivesses debaixo de água

sabes as regras a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca

sabes as regras até que tudo seja somente um peixe

sabes as regras um grande peixe de memórias-salitre a decorar a sala

sabes as regras .a perda. um imenso sábado de morrinha na cama desfeita de manhã de single sheets tão feios mas eram .dela. sabes as regras não podes dizer single sheets tão feios eram da perca a perca que entrou no jogo a jogar um par de disponibilidade de olhos na altura a “cabeça do futuro” perguntou não tens medo da disponibilidade e respondeste tenho medo dos olhos e jogaste um ás de corações é a tua vez

sabes as regras .a perda. as escamas parecem-te mais bonitas que nunca

sabes as regras .a perda. mais bonitas o nunca que por acaso está a acontecer agora .a perda. debaixo de água

Friday, September 28, 2007

1. Quase Reflexão sobre Afelicidade

Com licença menina! Os olhos loucos a corar de azul, e um sorriso de sol-do-dia, que no Outono é mais frio e chove, e o cartão desfaz-se com mais facilidade. Ainda por cima tem uma perna em desajustamento rotativo, e coxeiam-lhe as roupas, coxeia-lhe a boina. Está satisfeito! Pescou alguma coisa no caixote do lixo e ainda foi a tempo de apanhar o autocarro. São 11h da manhã e corre-lhe bem o dia! Com licença, minha senhora! E a senhora dá licença. E ele senta-se. De uma simpatia, de uma delicadeza, de uma educação, menos rugosas que as rugas. Pergunto-me se é feliz. Pergunto-me se me perguntaria se ele é feliz se ele fosse outra pessoa, a vestir Normality for Men. Então para ser justa, para não discriminar ninguém, pergunto-me se a senhora que está ao lado dele é feliz.
E se a outra senhora que está atrás da referida primeira, é feliz.
E o senhor, e o rapaz, serão felizes? Pensarão se são felizes? Pensarão sobre a forma e o conteúdo, o estado e o porvir da situação de felicidade da senhora que está à frente, e que poderá ser ou não, muito pouco ou nada, feliz?
Depois pergunto-me, quem dali, a viajar naquele autocarro, àquela precisa hora, será feliz. Depois, para ser mesmo muito justa, pergunto-me
Outra-Coisa-Qualquermente-Inútil.





2. Breve Inquérito sobre Afelicidade

A. e você: já foi feliz hoje?
a) sim
b) não
c) mais ou menos
d)não penso sobre isso

B. Se na pergunta A respondeu a), volte a ler o texto inicial, do início ao fim, ou seja, todo! Se respondeu b) passe directamente ao ponto C deste inquérito. Se respondeu c) pare, escute e olhe, repense e reformule a resposta. Se respondeu d), congratule-se, vá à sua vida, obrigada pela atenção dispensada, não volte a responder a inquéritos, tenha uma boa tarde.

C. Este inquérito foi breve, para que não desperdice afelicidade, para que tenha tempo para afelicidade, no fundo e à superfície, não queremos atrapalhar a sua AFLICIDADE!Porque o que está aqui em jogo, é AFLICIDADE de tod@s @s portugueses!!!

Thursday, September 27, 2007

"all the world is GREEN"

Pretend that you owe me nothing
And all the world is green

We can bring back the old days again
And all the world is green


It's a love you'd kill for
And all the world is green


Lyrics: Tom Waits, Blood Money

Tuesday, September 25, 2007

Noites Brancas


She esperava-o. Outro encontra-her. She continua a esperá-him. He não escreve há um ano. Porque não? Porque ficou assim combinando, não perguntei porquê. How Wise! She acredita que he vem. O outro crê que he não virá. She continua a acreditar que he vem. O outro jura que he não virá. Passámos por aqui, estivemos naquela ponte, e foi neste sítio que combinámos encontrar-nos. He não vem.

She leaves

looking like a boat

she leaves looking like a boat

she leaves looking like a boat that looks like a

barco de mar.mories

barco de night.mares

barco de flor.ments

barco de sila-byes

.th.e.and.

(de repente começa a voar.

Tuesday, September 18, 2007

Agora tem uma expressão indiferente, distraída, como a dos passageiros obrigados a esperar muito tempo pelo comboio. Diz-lhe. Um dia faço qualquer coisa.

. um dia faço qualquer coisa

. um dia faz-se de qualquer coisa

. um dia desfaz-se por qualquer coisa

. um dia de qualquer coisa .como. qualquer coisa de um dia

Não tem paciência nem tempo para arranjar o cabelo, mete desajeitadamente as mechas soltas para trás e vai-se embora.

Parfois


Parfois je mets
sécher mes mots

par plaisir

sur le moustache de Dalí


Ready-Made a partir de "Parfois Je Cherche Par Plaisir Sur Le Portrait De Ma Mère", de Salvador Dalí

Wednesday, September 12, 2007

pequenos apontamentos de ironia na rua

1. Uma voz roufenha e metalizada chama no centro de saúde "sr. Coelho, gabinete 1". Da turba desesperada mas conformada pelos estofos vermelhos de má qualidade que forram as cadeiras toscas, da turba desesperada mas embebida na logorreia da pequena televisão mal sintonizada, levanta-se um senhor de idade, cambaleante, coxo, pesado. Acho que a língua portuguesa permite uma maior panóplia de apelidos, e não me parece justo atacar assim, levianamente, escusadamente, a identidade dos animais, que afinal de contas, também têm direitos.

2. Ele está sentado no degrau, mas as suas calças cinzentas interrompem o azul e branco da calçada do passeio, o que por sua vez obriga os transeuntes não daltónicos a interromper, irremediavelmente ou não, os seus passos de quotidianeidade . Terá as pernas quentes de mais para este dia de verão tardio, o que não parece explicar por si as rugas, a preocupação das mãos pendentes no regaço. Olho. Um rosto triste, triste de mais para um dia de verão, triste demais para um homem só. Um boné branco, descuidado, esconde-lhe a inclinação resignada da cabeça, um boné que tem estampado "dá-lhe gás".

Tuesday, September 11, 2007

A propósito do 11 de Setembro ou os mortos que não figuram no jornal

O desabamento das Torres Gémeas ficará para sempre gravado na nossa memória: o grande ícone americano em chamas, a ruir, pessoas a atirarem-se dos edifícios, o desespero de todos e de todas, as cinzas... E esta memória global do 11 de setembro é possível pela imensa cobertura mediática do acontecimento. o "11 de Setembro" foi um dia. Como nomear a chacina, activa e passiva, de milhões de pessoas por todo o mundo, todos os dias? Com a Guerra do Vietname cria-se uma "tele-intimidade" com a morte, e a destruição; e o nosso conhecimento das guerras passa a ser um produto do impacto das imagens (paradas ou em movimento) que nos chegam através dos media. Mas nem todas as guerras a acontecer ou acontecidas têm o mesmo "direito de imagem", é preciso que seja uma guerra excepcional. E esta foi uma excepção. Hoje evocam-se as vítimas do 11 de setembro, as "vítimas inocentes do terrorismo". A propósito do 11 de Setembro, eu evoco as outras vítimas, aquelas de quem não se nomeia o carrasco, os mortos que não figuram no jornal.

Saturday, September 08, 2007

Setembro

vésperas da partida
.para o azul

os fins-de-tudo

são

os começos-de-alguma-coisa

mais ou menos

.azul