por cima
dos gestos
abóbadas de obsessões de língua fria
terminam
no delíquio da cabeça a desmoronar-se em fieiras de orquídeas
por cima dos gestos
os gestos
molhados por dentro
gelhas de arrependimentos aquáticos
torturados como um vime pelo gosto do desfazer e o amor latente, cor de medronhos.
, vá de estalar.
os gestos
espargidos
na mesa de tinta vermelha
depois de descascados são caroços de granito
que se deitam à terra
esperando uma liturgia de rosas
para dizer -
“dá-me um dilúvio de fábulas
onde possa atear um batel de pergaminhos”
por cima
dos gestos
longinquamente algum país sombrio
de capital rouca e bigodes orvalhados
por cima dos gestos
os gestos
habitados por anjos de mosto com colares de musgo
a acenar num enorme balão veneziano
vêm de longe transbordar em linha d’ânforas
, vinte anos depois, como no cinema.