Tuesday, February 27, 2007

ver as coisas de outra perspectiva

"nos ensinamentos maniqueístas, deus não é o verdadeiro ser: é o que nasceu em segundo. o primeiro a nascer é o monstro, o demónio a quem deus, o usurpador, destronou, através de truques e práticas sabidas, expulsando-o para o mar...Ou seja, um deus enganador identifica o demónio com o Mal, embora este exista para criar a existência infinita com direito a morrer, em vez de uma existência finita com a imposição de uma morte inevitável"

Eric Mottram, "Os meios ao dispor da Poética" in Revista Crítica de Ciências Sociais, nº47, p.46

[quinze de abril]

há vermelho no branco
a carne aberta pelo linho
um sangue surdo para fora do tempo

lavo os olhos no negro
que torna vermelho o linho

Pedro Sena-Lino
p. 23 de Deste Lado da Morte Ninguém Responde, edições Quasi, 2005

sobre o autor pode ler-se o essencial na badana:
Pedro Sena-Lino (n.1977), sexualmente interessado em Deus.

Monday, February 26, 2007

amor em alemão

"nós não damos rosas, damos beijos"

Saturday, February 24, 2007

Adega de Pegões (Trincadeira)

Há em todos os objectos uma ausência iminente.

Deixa

-se revelar pela luz Fixa

-se na forma até à persistência da visão

o que não diz um casaco pendurado no hall.de que cor são os meus cabelos quando ditos pelos meus ganchos abandonados na mesa branca.

Thursday, February 22, 2007

coliquação

UM DIA AO ACORDAR VIU QUE TINHA UMA FERIDA
NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE FÓSF
ORO NO DIA SEGUINTE AO ACORDAR VIU QUE TIN
HA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA
BARRIGA DE MOSCA NO DIA SEGUINTE AO ACORDA
R VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TA
MANHO DE UM OLHO DE VACA NO DIA SEGUINTE A
O ACORDAR VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABE
ÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE RATO A FERI
DA ALARGOU ALASTROU AO CORPO TODO E PASSAD
AS UMAS SEMANAS ERA COMO UM PÊSSEGO PODRE
SEM CAROÇO MAS DA MESMA COR E CHEIRANDO TÃ
O MAL QUE A ALMA O ABANDONOU DEFINITIVAMENTE.


Alberto Pimenta, Obra Quase Incompleta, ed. Fenda, p. 77

gestos antigos

há uns dias, um conjunto de circunstâncias que não carecem de ser especificadas, levaram-me a entrar numa cabine telefónica, levantar o auscultador, deixar que a máquina devorasse as minhas moedas, marcar o número, e esperar. Soube-me bem. Não sou um arquétipo do saudosismo bacoco português, contudo, arrogo-me a afirmar "tinha saudades" desta sequência de pequenos gestos, (felizmente?) substituídos pelo pragmatismo dos telemóveis.
por falar em gestos antigos, isto lembrou-me a minha ida natalícia aos correios, (percurso quase esquecido), onde pude ainda ouvir o inusitado pedido dum senhor velhinho para a senhora dos correios:
"ó menina, escangalhe-me aí esta nota" [10euros].

Tuesday, February 20, 2007

Aviso

avisa(m)-se @(s) utente(s) deste blog, que o funcionamento do mesmo se processa por espirros mentais, o mesmo é dizer que após grandes períodos de afasia , se seguem outros tantos de logorreia.
desde já muita obrigada pela atenção!
os melhores cumprimentos

Conformite

a nova edição/configuração do jornal Público revela um sintoma que é causa de uma das três mais frequentes doenças nacionais; a saber, a conformite, as doenças de coração e o zapping de domingo.
"eu quero outrar-me, outrar-me,
outrar-me perdidamente"

Fernand@ Pessoa, em flagrante "delitro", a brincar com os poemas de florbela espanca

a ordem das coisas

é da natureza dos anéis, serem perdidos por dedos desamados.

é da natureza dos arlequins serem tristes como carnavais mal disfarçados.



é da natureza dos chapéus ocultarem cabeças-de-lâmpadas-fundidas.


é da natureza do público das coisas não existir, e é da natureza das coisas existir sem público.


é da natureza d@s ma(u)s poetas escreverem metáforas parvas às tantas da madrugada, em lugar de tomarem um xanax, como fazem as pessoas de bem.

Saturday, February 17, 2007

Provérbio Africano

Enquanto os leões não tiverem historiadores, a história será sempre dos caçadores.







Monday, February 12, 2007

História Natural

os pés pisam o palco preto.
a nudez inicial transforma-se em movimentos de animal ferido.
finda a música fica a respiração assimétrica dos corpos em fuga.

De vestido em vestido volta-se a contar a Estória
- natural-izada de um bolo de chocolate.

Elas renascem dos sapatos de salto
- alto como o sol invisível que lhes puxa os fios de marionetas antigas
e vê-se o medo nos músculos
- em pontas.

Há que calcular o tempo entre a muda da primeira camada de pele
e a próxima.

Os homens-cabide fixam residência
num silêncio de três quartos
enquanto os cães negros se lançam por dentro
da madeira.

Uma cadeira sem gente, sem roupa, sem som
- permanecerá “cadeira”?

Monday, February 05, 2007

DE UM MOMENTO PARA O OUTRO PODE ENTRAR


um pássaro que levante o céu.
Alexandre O'Neill

Confiança

Em Salónica conheço alguém que me lê.

E em Bad Nauheim.

Já são dois.


Gunter Eich

Rosa do Mundo-2001 poemas para o futuro