Wednesday, August 12, 2015

do desperdício


que inventasse uma nova
língua

que
pudesse 
por inteiro
.

pôr-te na minha boca
.



Tuesday, August 11, 2015

sejamos então doentes


não nos desgastemos mais
a tirar as ervas
entre os tomateiros
não vão reverdescer
novas palavras
para comunicarmos mais saudáveis

sejamos então doentes
até ao figado
gozemos a cor amarelada da pele
gozemos a fama e o proveito
gozemos o esforço desnecessário
gozemos a dor e os intervalos a fumo
gozemos as coisas a mais e o pouco que nos resta

naquela coisa onde a gente pôs as uvas
vejamos aparecer
uma cirrose bem treinada nas artes da retórica
que diga por nós
.

as saudades já não me bastam
para pôr a comida na mesa

alimento-me de mim e deixo-me engordar
a olhos vistos

fechei as janelas para não ter correntes d’ar
para não ouvir mais o galo
nem os pássaros demasiadamente matutinos

tenho a língua desbotada do sol
e queimei há muito
o último vestido
em condições de aparecer em público
não quero provar mais nada
ajustar
justificar
à esquerda
ou mesmo à direita

prefiro dar à costa

tenho medo
por exemplo
de me esquecer de tomar os comprimidos
por exemplo
de não saber o caminho de volta

mas fecho os olhos
e faço-me
pernas p'randar