Thursday, January 02, 2025
Adília est morte! Long live the Queen!
Thursday, August 12, 2021
A Mulher Alpendrada
caminha ao largo
da Oliveira
a mulher alpendrada
o senso comum a exigir que se apresentasse
límpida
e sem cheiro
desagradável
tornava-a imprópria
para o uso público
as mãos estendem-se em concha
até aos pontos mais altos da secura
voltam vazias
aproveitando o próprio osso
como cabo da faca
com que atravessar
as Origens
e restituir
algo que lhe tinha sido retirado
a espessura
havia por fim a convicção de que
podia ser escoada
ainda estava só a começar
e eles já se empanturravam
Rita Grácio
Publicado na revista Inefável #13, 2016
https://inefavelsite.wordpress.com/13-2/
do calcário na garganta II
o bico de um corvo
indica o ponto em que as guerreiras marulham [
começo a alfabetação dos cacos
como se fossem coleccionáveis
e engulo de seguida
como se comunicar fosse uma vigília de gânglios
entre cascas de modernidade, ervilhas e
magnólias
] deve haver ainda uma alvorada vulvar
onde aplicar a polpa dos dedos salgados [
levo-me a espairecer ao eirado
em contracções crepusculares
recolho coágulos
cânticos
o som das rabecas
] ensina-me o movimento da água
poema publicado na revista Inefável #13, 2016
https://inefavelsite.wordpress.com/13-2/
Mesinha de Cabeceira do Quarto d’Avó
do lado direito do mata-moscas
o crucifixo com jesus
do lado esquerdo do mesmo mata-moscas
a virgem maria
serve de amparo
à carta que chegou ontem
não sabes ler nem escrever
habitas a tragédia das alumiadas
no corpo imóvel
uma vela castanha
suja o prato com os restos de rezas e ladainhas
e um rádio a botões
abafa os resultados da biópsia
e o teu escarro
poema publicado na revista Inefável #13, 2016
https://inefavelsite.wordpress.com/13-2/
Wednesday, August 04, 2021
Sem aviso prévio
das contas que não se pagaram
chega um aviso
antes do corte
ouvem-se os passos do vizinho
que vem dizer que há muito barulho
antes da polícia
vem no relatório a reprimenda
antes de nos porem no olho da rua
mas os amigos vão embora
sem dizer que não gostaram das festas
que a comida nunca era do seu agrado
que havia sempre muito barulho
e pó
ou não terei ouvido
que havia sempre muito barulho
e pó
os amigos sorriram
acenaram com a cabeça
não voltaram
ou não os vi
estre pratos e espanadores
e uma lista de podcasts
que me avisa
dos seus favoritos
Monday, December 24, 2018
Wednesday, July 18, 2018
Bonanza
Friday, November 24, 2017
Sunday, November 05, 2017
Phoo-Doo
doing what
you love the most
dying of what
you love the most
drying out what
you love the most
Saturday, September 30, 2017
Internamento/Admission
o desentendimento
é sobre o estatuto ontológico
da cefaleia.
numa escala de zero a dez
a minha cabeça vai explodir
mas nego lesões cutâneas.
são horas de comer.
imagino que os carrinhos de tabuleiros
são comboios a grande vitesse
a fazer parar macas camas
cadeiras de rodas. enfim tráfego
terrestre de tantas pessoas
no mesmo barco
à noite, o barulho
da ventilação não me deixa
dormir. fecho
os olhos, isto é
agora um motel americano
daqueles onde se fode muito
como se fosse a última vez
juro que lhe sinto
a pontinha
do baço
à noite, o barulho
da ventilação não me deixa
dormir. fecho
aqui tosse-se muito
de uma última vez
no mesmo barco
suplico endovenoso, que aprendi
a dizer. e nada
de luz directa
Wednesday, June 28, 2017
Monday, June 19, 2017
Thursday, June 01, 2017
cryme
Monday, May 29, 2017
Monday, February 27, 2017
Tra-dedo-sãos
watch your tongue
não é olhar a língua
ao enrolar a língua
dá-se a morte do autor
poetic depth
poetic dead
sento-me a velar o morto
para depois
enrolar a língua
Monday, November 28, 2016
entaramelada
entaramelada
tampouco o risco ou o rasto