Monday, October 05, 2015

desesperança


não há ninguém indicado

/a

para


reagir

.




Thursday, September 24, 2015

morTal da hisCória


rejeitada de par em par


perdi a luta a par e passo





pequeno-almoço II


há algo de errado
em tudo isto
e eu sei que tu sabes que eu sei
há até uma explicação científica
mas isso de pouco vale
quando tens insónias
e enfias os pesadelos pela goela abaixo
as dívidas debaixo do tapete
as dores à obra

e eu sou toda-ouvidos
mas não faço nada

tu falas
eu oiço
e não acontece nada

então dividimos a culpa em três quartos
e começamos por cima
a rapar




Wednesday, August 12, 2015

do desperdício


que inventasse uma nova
língua

que
pudesse 
por inteiro
.

pôr-te na minha boca
.



Tuesday, August 11, 2015

sejamos então doentes


não nos desgastemos mais
a tirar as ervas
entre os tomateiros
não vão reverdescer
novas palavras
para comunicarmos mais saudáveis

sejamos então doentes
até ao figado
gozemos a cor amarelada da pele
gozemos a fama e o proveito
gozemos o esforço desnecessário
gozemos a dor e os intervalos a fumo
gozemos as coisas a mais e o pouco que nos resta

naquela coisa onde a gente pôs as uvas
vejamos aparecer
uma cirrose bem treinada nas artes da retórica
que diga por nós
.

as saudades já não me bastam
para pôr a comida na mesa

alimento-me de mim e deixo-me engordar
a olhos vistos

fechei as janelas para não ter correntes d’ar
para não ouvir mais o galo
nem os pássaros demasiadamente matutinos

tenho a língua desbotada do sol
e queimei há muito
o último vestido
em condições de aparecer em público
não quero provar mais nada
ajustar
justificar
à esquerda
ou mesmo à direita

prefiro dar à costa

tenho medo
por exemplo
de me esquecer de tomar os comprimidos
por exemplo
de não saber o caminho de volta

mas fecho os olhos
e faço-me
pernas p'randar





Sunday, September 14, 2014

nova série em processo

este é o primeiro poema de uma série de experimentações psicotecnopoéticas, ainda na forja, muito rudimentares seguramente - toscas, mesmo-  agrupadas sob a etiqueta:


On the Poetics and Politics of Being Left

alone





poema 1 - "biografia"




estava só 



na minha cabeça









Tuesday, August 12, 2014

“you got to go home to the family”


só um açafate e uma goteira
para o inventário dos arcanjos
de louça
em corredores com duas camadas de filhos
enjeitados

e um gato gordo
ao fundo

a olhar


Friday, March 28, 2014

Evidence-based approach

the glass
shatters.

the glass
shatters
in one's hand

the glass
bleeds.


Tuesday, March 04, 2014

"What is like to be a poet?"

in "the sessions" (2012)
http://www.theguardian.com/film/2013/jan/20/the-sessions-helen-hunt-review

official trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=Fy2y7UIpgP4

and "love poem to no one in particular"
by Mark O’Brien

Let me touch you with my words
For my hands lie limp as empty gloves
Let my words stroke your hair
Slide down your back
And tickle your belly
For my hands, light and free flying as bricks
Ignore my wishes
And stubbornly refuse to carry out my quietest desires
Let my words enter your mind
Bearing torches
Admit them willingly into your being
So they may caress you gently
Within

Thursday, January 09, 2014

Fojo

tenho medo de ficar
louca
ouca
ou


oca

. tenho me do de me

Thursday, October 17, 2013

ecografia mamária

passo os dias
a passar os dias
à espera
que nada me aconteça que nada me aconteça que nada me aconteça
às mamas
só as tuas
mãos
só as tuas mãos só as tuas mãos só as tuas mãos

Saturday, August 24, 2013

o pai

"tenho de falar do pai"
o pai o pai o pai
o pai o pai o pai
o pai o pai o pai
falemos então do pai.
pomo-lo sobre a mesa.
preparamos os guardanapos.
damos a primeira garfada.
mastigamos.
e nesse momento sabemos
ele chegou primeiro.
nada a fazer.

engolimo-nos.

Sunday, August 18, 2013

Poema de 15 de agosto


quero um poema violento
como um livro todo
de Dostoievski quando lido aos 15 anos.

não está na moda ser pós-moderna
mas dou-te a minha palavra.

ainda não se vê a boia
avistamos a espera
a rede
e a tua mão a fazer-se
o carapau que vai sair do mar
e a tua mão como os teus olhos a fazer-se
também palavra
a medida de todas as coisas

e os amigos que comovem
quando perguntam
por nós
quando vêm ver
de nós

e o amor por Ela
uma engrenagem cardíaca repetidamente vermelha
na boca, nas pernas, nas fotografias
e a ausência Dela
um lamento amortecido a trémulas mãos


já que não vamos embora
deste quarto verde onde vive a mentira
vou contar mais uma história.

a missão de alguns é fazer portas
a dela é fazer sangue

neles.

Saturday, April 20, 2013


menos luz significa
a variedade de corpos no espaço

é mais frio, mais pequeno  e mais escuro
o rasto
deixado

aparece

Tuesday, January 22, 2013

Saturday, November 10, 2012

happy days

estávamos em Julho
de 1987
e eu era mãos
e tu mãos
mãe
e pernas em bicicleta-comó-pateta
pelas tardes eléctricas em que éramos só as duas
.
e fazer horas até ir buscar as fotografias
reveladas quentes
e suster a respiração
em família
com o McGyver
e ir de autocarro
"uma aventura"
quando seguia
"por este rio acima"
com a única memória do pai

uma meia de cada cor
a condizer com o "porquê? porquê?porquê?"

para
descobrir
chocada
em casa dos Roque
que no feriado do dia do trabalhador
não se trabalha.


Monday, April 23, 2012

aesthetic loneliness




desde pequena que


petisco


Thursday, March 22, 2012

scales


Quando
ela vai à cozinha
abre a porta do armário
e tem a vanguarda artística toda a tocar
entre a caixa de cereais
e o pacote de bolachas
.
é preciso lavrar
o pé dos molares
a.prender a incisão das guelras
a.rrepanhar a pouca-fé que nos trilha os dedos
a.rranjar espaço para o que se segue

cacos


Saturday, March 10, 2012

Ginger Beer

encontrei um dragão 
num ladrilho de papelão
.
sobre
tudo
sobre
vive
mos
a
tudo
sobre
tudo
sobre
vive
mos 
a
nós
mesmos
.


depois 


o exercício demorado das cinzas


à colherada







Ale


no trapézio justaposto
justifico-me
encarquilho-me
mereço-me
avario-me
vestida a rigor e
com etiqueta nacional
.
um armário muito novo
muito estragado
que desabriga ameixas
e espirra conservas, geleias e marmeladas
até já não restar qualquer esperança de
sericaia