Sunday, January 09, 2011


para envelhecer em espiral
é preciso ir no sentido das marés vazias
e regressar como um planeta quadrado

a entornar-se de novo
sobre se
são quinze cânticos sempre
a mexer
o panelão


aos olhos é preciso pôr-lhes azulejo
e aspersores
partir o pão e descascar
a mitologia litoral
os frutos secos 

entupir-se




3 comments:

groze said...

um amigo dizia-me que "aquela última estrofe do poema no «tampa de caneta» é soberba." e eu subscrevo, estendendo a opinião desse cavalheiro ao resto do poema; tocam-me, de maneira particular, as imagens e as mundividências, por mais surrealistas-simbolistas-modernistas-seja-lá-o-que-fôr que pareçam e/ou sejam, que tens criado e vais criando por aqui. olha, fizeste um fã e, sobretudo, visita assídua. hahaha! e nem em melhor hora, que já vinha, desde há uns tempos, a deixar de acreditar nalguma comunidade de poetas/pessoas que gostam de escrever e apesar de tudo não são más de todo no que fazem/bloggers, que isso parecia-me tudo sombras de uma coisa que foi mas deixou de ser.

e, olha, obrigado por escreveres assim. mas é que muito a sério, mesmo.

NA: lamento se não sou gentil-homem de entrar por demasiadas análises formais/sintáticas/semânticas/hermenêuticas/fonológicas, mas é que, para isso, já me chega o curso. na "vida real", gosto de ir sentindo a poesia assim, de forma concreta e bonita e sincera. um abraço.

rita grácio said...

Groze, quero que se saiba que se a crítica algum dia me rotular (e engarrafar e distribuir) quero ser a "poeta-do-seja-lá-o-que-fôr"! é a melhor análise/oh/ò/coisas/literárias de sempre ;) olha, já dizia o outro, que sentir, sinta quem lê!ehehe. portanto, lança-se o desafio aracnídeo: des.a.fiar os poemas (vá de escangalhá-los!). importante mesmo, não é ser engarrafado com o laçarote, é ser bebido/a (sim, sim, desculpem lá a imagem-lugar-comum).
e obrigada pelo generoso comentário! beijinhos

Mortir said...

Depois de reler tantas vezes este poema não posso deixar de o comentar até porque se houvesse um estetoscópio para auscultação do maravilhoso seria garantidamente sobre esta forma, de um poema tão bonito e sentido/"sentível", que nos permite deixar de lado a hermenêutica (etc) e ler poesia, como deve ser lida, sinceramente.

Obrigado pela poesia... é bom saber que ainda a há no ciberespaço.