"Quando rebenta uma guerra, as pessoas dizem: "Não pode durar muito, seria estúpido.". E, sem dúvida, uma guerra é muito estúpida, mas isso não a impede de durar. A estupidez insiste sempre e compreendê-la-iamos se não pensássemos sempre em nós. Os nossos concidadãos, a esse respeito, era,m como toda a gente: pensavam em si próprios. Por outras palavras, eram humanistas: não acreditavam nos flagelos. o flagelo não está à medida do Homem; diz-se então que o flagelo é irreal, que é um mau sonho que vai passar. Ele, porém, não passa e de mau sonho em mau sonho são os homens que passam e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram as suas precauções. Os nossos concidadãos não eram mais culpados que os outros. Apenas se esqueciam de ser modestos e pensavam que tudo era ainda possível para eles, o que pressupunha que os flagelos eram impossíveis. continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões."
p. 42 de Camus, Albert (2006) A Peste. Lisboa: Livros do Brasil.
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