Wednesday, December 19, 2007

no princípio era

uma coisa

pequenina
inclassificável
.
depois
continuava uma coisa pequenina.

contudo
cresceu em quantidades extremamente razoáveis
para se poder dizer que
não cresceu
assim tanto.

ao que parece, não era um problema, e ensaboava os olhos todas as manhãs.
não percebia muito dos outr-iços que encontrava nos passeios golpeados assimetricamente para o lado de cá do ruído dos cabelos.
tinha recursos de azul que escorriam pelo canto da boca delineada a pixel.
pelos anos recebeu uma represália de orquídeas.
adormeceu a meio da morte, com tudo aquilo a que tinha direito
e mais um botão.

Tuesday, December 04, 2007

in memoriam

pescadores
macerados na salga
das flores. livros. orações

remendos azuis na rebentação

cumprem o mar.


Saturday, November 17, 2007

quando terminaram de me atirar todas as pedras
.
as lágrimas lavraram as feridas exangues
e percebi-me uma geometria de sólidos e gestos áridos
.
lambi-me na solidão das magnólias brancas
.
um candeeiro apagado
.
a morrer-se com a última estrela
numa desistência de luzes

Saturday, November 10, 2007

pour le monsieur A.

às x

já nem cabia na mala

ficava uma história com a gola a pender, ou uma pata de fora ou desgastavam-se os punhos de um provérbio sem botões

de punho

E depois ninguém podia dizer que fora por sua culpa que se perderam os mitos dos grandes ómens civilizadores educadores e desoutrificadores

.

pois não cabiam na mala-que-não-cabia

no porão

que era imenso e de ébano.

.

nem soprando no café confinado à chávena de retalhos de louça de Guell

poderia perceber a origem dos furacões

quanto mais a teimosia da mala onde não coubera – cabia – exígua -

.

ainda pensou na decantação da violeta de cristal por meio de um composto

orgânico

não

restava-lhe apenas

o cheiro a canela

açafrão

cardamomo

restava-lhe apenas

vestir o velho trajecto das especiarias

e entrar no caleidoscópio

. nú


Sunday, November 04, 2007

pássaros súbitos

em quedas de casco duplo


pulmões pressurizados

em mutilação de horas


campos a espernear

com panos húmidos na boca


?explicam

a metodologia da guerra


aprumada a maquinaria

pega de estaca.


e a grande Lacuna a sorrir-nos

(so polite!

desmembrada

vem à porta


.diz adeus.

Friday, October 26, 2007

o músculo da noite descansa na velha poltrona
um declínio de luzes
a repensar
a rota
da radícula

.
no herbanário da escola
uma lista de amores-imperfeitos
por secar
.

Wednesday, October 24, 2007

Aviso

Este blog foi à máquina de lavar, à temperatura recomendada de 40º, tecido brancos, delicados.
espera-se que não haja palavras tingidas,
nem outra espécie de feridos.
ainda assim, há qualquer coisa de
encardido
na linguagem.

Wednesday, October 17, 2007

102º

depois o silêncio.

de

pois

o silêncio

do silêncio

do de pois

o silêncio

de um pássaro aberto em arquitecturas de folha

de um pássaro aberto em estradas de espuma e gerânios

depois o silêncio.

a dividir

o silêncio

do jardim da casa

onde habitam os monstros embelezados pela grande máquina de luz

depois o silêncio.

servido a talher

Thursday, October 11, 2007

101º

de repente os dedos deram .um nó. sobre si mesmos e ficaram .amarrotados. a pensar que eram roupa suja foram esconder-se dentro da máquina de lavar que os tingiu de vermelho porque alguém se esqueceu da boca. um dos mecanismos de vermelho. e ficaram a pensar que eram amor. forraram a pele fosca pela fractura dos fardos .fêmea. estendida sob um ensinamento de sóis. derreteram.
a grande caixa cardíaca abriu-se de corvos
depois.
ardeu a noite toda

Wednesday, October 10, 2007

100 mensagem

uma fila de candeeiros partidos
100. iluminar
um tropeço de poros
100. iluminar
instrumentos de-escrever- cada-vez-menos-palavras
100. iluminar
uma ambiguidade de estuques
100. iluminar
uma caixa de bolos
100.
migalhas

Tuesday, October 02, 2007

Ela. Quero cardar-me na tua pele.

uma inclinação de salivas

sob os cilícios da chuva

uma órbita de vermelho

sob os dedos dilatados

uma sucção de luzes

sob as coxas dos pássaros

uma queda de bocas

sob o carpir dos lençóis

uma paciência de líquidos

sob o início do vértice


Ela. Sabias que.

a

estátua da velha praça de medos

é

uma raiz de thuía

a

esculpir

o

barulho decapitado

- no fim das abóboras

era matá-La.

agonsalhos de outubro

Tens de ter mais confianças em ti! Põe a primeira que o carro está a ir abaixo abaixo.

Sei lá, acreditar mais em ti, nas tuas capacidades! Não achas que isso é sal a mais?

Mostrar aos outros o que vales, erguer a cabeça! Essa roupa não te fica bem, faz-te as ancas mais largas do que já são.

Tens de fazer valer o teu ponto de vista! Não tens razão, o que estás a dizer não tem sentido nenhum.

Saturday, September 29, 2007

sabes as regras não podes dizer .a perda. dizer .a perda. é perder duas vezes

sabes as regras .a perda. um homem não pode perder duas vezes .a perda.

sabes as regras podes brincar não podes dizer podes podes dizer a perca

sabes as regras .a perda. baixinho como se estivesses debaixo de água

sabes as regras a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca

sabes as regras até que tudo seja somente um peixe

sabes as regras um grande peixe de memórias-salitre a decorar a sala

sabes as regras .a perda. um imenso sábado de morrinha na cama desfeita de manhã de single sheets tão feios mas eram .dela. sabes as regras não podes dizer single sheets tão feios eram da perca a perca que entrou no jogo a jogar um par de disponibilidade de olhos na altura a “cabeça do futuro” perguntou não tens medo da disponibilidade e respondeste tenho medo dos olhos e jogaste um ás de corações é a tua vez

sabes as regras .a perda. as escamas parecem-te mais bonitas que nunca

sabes as regras .a perda. mais bonitas o nunca que por acaso está a acontecer agora .a perda. debaixo de água

Friday, September 28, 2007

1. Quase Reflexão sobre Afelicidade

Com licença menina! Os olhos loucos a corar de azul, e um sorriso de sol-do-dia, que no Outono é mais frio e chove, e o cartão desfaz-se com mais facilidade. Ainda por cima tem uma perna em desajustamento rotativo, e coxeiam-lhe as roupas, coxeia-lhe a boina. Está satisfeito! Pescou alguma coisa no caixote do lixo e ainda foi a tempo de apanhar o autocarro. São 11h da manhã e corre-lhe bem o dia! Com licença, minha senhora! E a senhora dá licença. E ele senta-se. De uma simpatia, de uma delicadeza, de uma educação, menos rugosas que as rugas. Pergunto-me se é feliz. Pergunto-me se me perguntaria se ele é feliz se ele fosse outra pessoa, a vestir Normality for Men. Então para ser justa, para não discriminar ninguém, pergunto-me se a senhora que está ao lado dele é feliz.
E se a outra senhora que está atrás da referida primeira, é feliz.
E o senhor, e o rapaz, serão felizes? Pensarão se são felizes? Pensarão sobre a forma e o conteúdo, o estado e o porvir da situação de felicidade da senhora que está à frente, e que poderá ser ou não, muito pouco ou nada, feliz?
Depois pergunto-me, quem dali, a viajar naquele autocarro, àquela precisa hora, será feliz. Depois, para ser mesmo muito justa, pergunto-me
Outra-Coisa-Qualquermente-Inútil.





2. Breve Inquérito sobre Afelicidade

A. e você: já foi feliz hoje?
a) sim
b) não
c) mais ou menos
d)não penso sobre isso

B. Se na pergunta A respondeu a), volte a ler o texto inicial, do início ao fim, ou seja, todo! Se respondeu b) passe directamente ao ponto C deste inquérito. Se respondeu c) pare, escute e olhe, repense e reformule a resposta. Se respondeu d), congratule-se, vá à sua vida, obrigada pela atenção dispensada, não volte a responder a inquéritos, tenha uma boa tarde.

C. Este inquérito foi breve, para que não desperdice afelicidade, para que tenha tempo para afelicidade, no fundo e à superfície, não queremos atrapalhar a sua AFLICIDADE!Porque o que está aqui em jogo, é AFLICIDADE de tod@s @s portugueses!!!

Thursday, September 27, 2007

"all the world is GREEN"

Pretend that you owe me nothing
And all the world is green

We can bring back the old days again
And all the world is green


It's a love you'd kill for
And all the world is green


Lyrics: Tom Waits, Blood Money

Tuesday, September 25, 2007

Noites Brancas


She esperava-o. Outro encontra-her. She continua a esperá-him. He não escreve há um ano. Porque não? Porque ficou assim combinando, não perguntei porquê. How Wise! She acredita que he vem. O outro crê que he não virá. She continua a acreditar que he vem. O outro jura que he não virá. Passámos por aqui, estivemos naquela ponte, e foi neste sítio que combinámos encontrar-nos. He não vem.

She leaves

looking like a boat

she leaves looking like a boat

she leaves looking like a boat that looks like a

barco de mar.mories

barco de night.mares

barco de flor.ments

barco de sila-byes

.th.e.and.

(de repente começa a voar.

Tuesday, September 18, 2007

Agora tem uma expressão indiferente, distraída, como a dos passageiros obrigados a esperar muito tempo pelo comboio. Diz-lhe. Um dia faço qualquer coisa.

. um dia faço qualquer coisa

. um dia faz-se de qualquer coisa

. um dia desfaz-se por qualquer coisa

. um dia de qualquer coisa .como. qualquer coisa de um dia

Não tem paciência nem tempo para arranjar o cabelo, mete desajeitadamente as mechas soltas para trás e vai-se embora.

Parfois


Parfois je mets
sécher mes mots

par plaisir

sur le moustache de Dalí


Ready-Made a partir de "Parfois Je Cherche Par Plaisir Sur Le Portrait De Ma Mère", de Salvador Dalí

Wednesday, September 12, 2007

pequenos apontamentos de ironia na rua

1. Uma voz roufenha e metalizada chama no centro de saúde "sr. Coelho, gabinete 1". Da turba desesperada mas conformada pelos estofos vermelhos de má qualidade que forram as cadeiras toscas, da turba desesperada mas embebida na logorreia da pequena televisão mal sintonizada, levanta-se um senhor de idade, cambaleante, coxo, pesado. Acho que a língua portuguesa permite uma maior panóplia de apelidos, e não me parece justo atacar assim, levianamente, escusadamente, a identidade dos animais, que afinal de contas, também têm direitos.

2. Ele está sentado no degrau, mas as suas calças cinzentas interrompem o azul e branco da calçada do passeio, o que por sua vez obriga os transeuntes não daltónicos a interromper, irremediavelmente ou não, os seus passos de quotidianeidade . Terá as pernas quentes de mais para este dia de verão tardio, o que não parece explicar por si as rugas, a preocupação das mãos pendentes no regaço. Olho. Um rosto triste, triste de mais para um dia de verão, triste demais para um homem só. Um boné branco, descuidado, esconde-lhe a inclinação resignada da cabeça, um boné que tem estampado "dá-lhe gás".

Tuesday, September 11, 2007

A propósito do 11 de Setembro ou os mortos que não figuram no jornal

O desabamento das Torres Gémeas ficará para sempre gravado na nossa memória: o grande ícone americano em chamas, a ruir, pessoas a atirarem-se dos edifícios, o desespero de todos e de todas, as cinzas... E esta memória global do 11 de setembro é possível pela imensa cobertura mediática do acontecimento. o "11 de Setembro" foi um dia. Como nomear a chacina, activa e passiva, de milhões de pessoas por todo o mundo, todos os dias? Com a Guerra do Vietname cria-se uma "tele-intimidade" com a morte, e a destruição; e o nosso conhecimento das guerras passa a ser um produto do impacto das imagens (paradas ou em movimento) que nos chegam através dos media. Mas nem todas as guerras a acontecer ou acontecidas têm o mesmo "direito de imagem", é preciso que seja uma guerra excepcional. E esta foi uma excepção. Hoje evocam-se as vítimas do 11 de setembro, as "vítimas inocentes do terrorismo". A propósito do 11 de Setembro, eu evoco as outras vítimas, aquelas de quem não se nomeia o carrasco, os mortos que não figuram no jornal.

Saturday, September 08, 2007

Setembro

vésperas da partida
.para o azul

os fins-de-tudo

são

os começos-de-alguma-coisa

mais ou menos

.azul

Friday, August 31, 2007

derivação a partir do poeta mário saa

por cima

dos gestos

abóbadas de obsessões de língua fria

terminam

no delíquio da cabeça a desmoronar-se em fieiras de orquídeas

por cima dos gestos

os gestos

molhados por dentro

gelhas de arrependimentos aquáticos

torturados como um vime pelo gosto do desfazer e o amor latente, cor de medronhos.

, vá de estalar.

os gestos

espargidos

na mesa de tinta vermelha

depois de descascados são caroços de granito

que se deitam à terra

esperando uma liturgia de rosas

para dizer -

“dá-me um dilúvio de fábulas

onde possa atear um batel de pergaminhos”

por cima

dos gestos

longinquamente algum país sombrio

de capital rouca e bigodes orvalhados

por cima dos gestos

os gestos

habitados por anjos de mosto com colares de musgo

a acenar num enorme balão veneziano

vêm de longe transbordar em linha d’ânforas

, vinte anos depois, como no cinema.

Sunday, August 12, 2007

"dizem que as flores fazem bem"

to not-do list

- não casar antes de as desigualdades de género serem erradicadas
- não procriar antes de haver paz na Terra bem como protocolos anti-poluição assinados por todos os países
- não comer chocolates sem ter dinheiro para fazer uma lipoaspiração
- não viajar sem boa música

-não escrever listas estúpidas e worthless

Friday, August 03, 2007

To put a little bit of sunshine in your life
Soleil all over you
warm sun pours over me
Soleil all over you
Warm sun

photo by: Cindy Sherman
lyric by: badly drawn boy

Thursday, August 02, 2007

And I find myself knowing the things that I knew
Which is all that you can know on this side of the blue


(...)

And the rest of our lives will the moments accrue
When the shape of their goneness will flare up anew
Then we do what we have to do(-re-loo-re-loo)

Which is all that you can do on this side of the blue

lyric by joanna newson

Wednesday, August 01, 2007

hoje

hoje:

as pequenas coisas simples

que eram até hoje

simples pequenas coisas

somente

simples coisas pequenas

ou, quando muito,

pequenas simples coisas

em tornam se em

hoje

tornam-se

hoje:

grandes e complicadas
complicadas e enormes
enormes e complicadíssimas
complicadíssimas e
possivelmente verdes.

porém, todavia, contudo

não deixaram de ser.


coisas.

hoje.



photo by: Francesca woodman

Monday, July 30, 2007

viagens


despojados os pés pejados
nós os pés nus
.partimos assim partimos.

sob o sol-rosa dos dias de antemão
sobre o solo-cinza dos dias de contrário
.partimos assim partimos.

depois do pó

.ficamos.

pedúnculos
"se uma pessoa, para gostar de outra, estivesse à espera de conhecê-la, não lhe chegaria a vida inteira. Duvidas que duas pessoas possam conhecer-se (...), que é conhecer, Não sei, e contudo podes amar. Posso amar-te, sem me conheceres, Assim parece."

José Saramago in A Jangada de Pedra

Monday, July 23, 2007

Derrida e ToyStory


o virtual tem um poder performativo
ou
"para o infinito... e mais além!"


“(…) Buzz opera num mundo virtual, mas isso não faz com que as coisas deixem de acontecer – pelo contrário. Nós sabemos que Buzz não pertence a uma aliança intergaláctica (…) mas o facto de ele acreditar nisso (…) produz muitas acções e eventos (…) no mundo actual”.O virtual tem o poder de produzir acontecimentos. Como Derrida chama, a actuavirtualidade – o actual virtual – faz com que coisas aconteçam. É, pois, esse o sentido de fazer uma política do virtual: esta tem um poder performativo, esta permitirá que certos acontecimentos tenham lugar.

in
A Derrida Dictionary, Niall Lucy


Wednesday, July 18, 2007

while you are waiting


imagem roubada em http://aixstory.deviantart.com/

Friday, June 29, 2007

Aviso

estas férias vão de blogue

vão de escada

escalada em vão

dias em caliças

Wednesday, June 13, 2007

Um solzinho pequenino

Monday, June 04, 2007

desabafo a seis tempos

seis meses, meio ano
sento-me na grande mesa da vida e olho para o copo do tempo: meio cheio ou meio vazio?
não sei se chove lá fora.
sei que não aprendi a falar nenhuma nova língua
nem me tornei uma pessoa melhor
nem li o que podia
fortizzimo, ma non troppo

Thursday, May 31, 2007

over and over and over and over and over

and

ela passa os crepúsculos em catálogos de quinquilharia

pensando como seria feliz se tivesse mais um roupeiro onde

arrumar a roupa arrumar a roupa arrumar a roupa arrumar-

-se arrumar se arrumar se arrumar se a marrar se a marrar se marrar

over

ela passa as tardes em queixumes de chocolate e café

pensando como seria feliz se não tivesse queixumes

às vezes não tem chocolates outras vezes não tem café
and

ela passa as manhãs em limpezas sísificas

pensando como seria feliz se as narinas da casa não espirrassem tanto pó

pensando como seria feliz se

pensando como seria feliz

pensando como seria

over

cata-estrofe

ela disse "isto é um escândalo! os jovens de hoje-em-dia não sabem que os ovos são para comer com talher, o talher de peixe!"
do outro lado do televisor, em formato pb, as bocas esfaimadas dos dias acercaram-se do talher que por esta altura já cheirava a peixe assado, sonhando com um ovo bem cozido.

Tuesday, May 29, 2007

where the head has been

ele ordenava meticulosamente os seus poemas
] por guerras

Monday, May 21, 2007

VI Encontro Internacional de Poetas

vejam o programa no site. (aqui ao lado)

Tuesday, May 15, 2007

Jantar de nãos

To Miss M.


hoje não faço anos.
comemoro não anos . anos não comemoro
faço um jantar de nãos.
sem velas.
para me des lembrar quanto tempo não me falta
para desacordar
sem dizer adeus aos meus sapatos.

Monday, May 14, 2007

"Dá-me um começo", disse-lhe, "depois da noite transfigurada"
?missa em si
?si-belius ou o grande lobo da finlândia
?m-is-e-en-scène duma chávena partida
?mis-si-ssipi ou o grande engolidor de chamas
"esquece", disse-lhe, "dá-me antes um final"
?mi
?miss T. eriously.
?miss U.

"esquece", disse-lhe, "um ponto final fica just fine".

Friday, May 11, 2007

AS FESTAS DA MINHA ALDEIA


porque hoje é finalmente o último dia

Saturday, May 05, 2007

Sobre Literatura

ofereço colheradas de Gonçalo M. Tavares sobre literatura:

“Toda a literatura é assunto de letras paradas fazerem ou não as coisas do mundo moverem-se.

(…)

Mas agir é diferente. Agir envolve alfabetos fisiológicos, construções gramaticais, humanas, e não só, que estabelecem ligações matemáticas e respiratórias entre, por exemplo, a necessidade de um organismo se alimentar e os projectos que a cabeça de um homem pode ter.

(…)

as únicas acções existentes na escrita são o escrever e o apagar. Se eu escrever agora ele corre, a única acção que existiu nesta frase foi a acção de escrever: agora ele corre.

(…)

Toda a escrita, pelo menos a decente, ou seja: a magnífica, toda a escrita instala, é certo, uma promessa de movimento, de acção.

(…)

Mas se existem dois pontos é porque existe uma distância entre eles que permite a distinção. E uma promessa de vida imediatamente a seguir concretizada - como sucede na grande literatura - é ainda um ponto que se sabe separado do Grande Ponto: isto é: da vida clássica, do sítio onde os nomes não existem, mas existe a morte, a doença, o acidente absolutamente bruto que pode levar em definitivo aquele com quem hoje queríamos conversar sobre algo inútil.”

Gonçalo M. Tavares

A colher de Samuel Beckett Ed. Campo das Letras

Sunday, April 29, 2007

"death is the mother of beauty" Wallace stevens

"Fui à rua buscar a morte que andava desaustinada pelas paredes como cão raivoso. Ofereci-lhe o braço, trouxe-a comigo, fi-la minha amante. Num leito de linho nos deitámos e em segredo me falou dias seguidos sobre a sua infância, a solidão debaixo da terra, o amor pela natureza. Explicou-me como acariciava os bichos comedores de cadáveres e dessa alegria maliciosa.
A morte passou a ter para mim muita importância. Comecei a vesti-la de alvas roupas, coser-lhe flores ao crânio, amando-lhe a face lívida, iniciando-a numa sensualidade sem fim.
Então, numa manhã a Morte sorriu mostrando nos lábios o seu carácter perfeito, isento de mesquinhez; beijou-me a boca, as pernas, o coração. Perturbou-me.
No meu interior países fervilhavam, milhões de rostos se viraram à luz:
tudo era claro como nunca sucedera.

Começara outra vida: dera-se a iluminação"


Isabel de Sá Repetir o Poema, ed.quasi

Friday, April 27, 2007

tenho pena da mão que nos pariu

na corrosão dos dedos pela fugacidade da areia
.

) a infância é de porcelana amarelecida
parte-se quando lhe fazemos festas (



Friday, April 20, 2007

work ON progress

a partir do livro de Amos Oz Contra o fanatismo

Salazar é um fanático.

levanta-se cedo para nutrir o gosto pelo kitsch através da adoração iconófila das imagens de nossa senhora made in china.

Salazar é um fanático.

um sentimentalista incurável a quem se lhe comove a pupila direita sempre que o tímpano esquerdo pressente os primeiros acordes do hino.

Salazar é um fanático.

quer libertar os seus vizinhos do ócio, da podridão moral e económica. para o bem de todos.

Salazar é um fanático.

historiadores, biógraf@s, sociólog@s, psicólog@s, e cabeleireir@s não descobriram que o grande problema de Salazar foi a grande ausência de sentido de humor. Os fanáticos são sarcásticos.

Rir é uma forma de se outrar.

Um homem sem sentido de humor só podia ter uma ideia sem graça nenhuma, uma ideia de onde não se podiam colher cravos, nem qualquer outra espécie de VIDA. os impérios tal como as igrejas, nascem sob o sol da morte.

Dizem os cientistas que a perda das certezas elementares da vida pode ter originado o meio século mais contaminado de idei-ulogias. Portugal contraiu o vírus.

Depois veio a música.

eram vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos no relógio da rádio.

De quem é esta terra?

nossa.

Há uma promessa, uma promessa que é um cão de faro tapado.

Tuesday, April 17, 2007

um mês e um dia

já que as comemorações estão na moda, aproveito para celebrar as não-postagens do blog. A afasia faz hoje um mês e um dia. A caneta ainda nutre esperanças de voltar a perder a tampa.
sem mais delongas
o peixe-que-queria-ser-um-tira-linhas

Wednesday, March 14, 2007

adília lopes para mim

os papelotes

nunca choraremos bastante
termos querido ser belas
à viva força
eu quis ser bela
e julguei que para ser bela
bastava usar canudos
pedi para me fazerem canudos
com um ferro de frisar e papelotes
puxaram-me muito pelos cabelos
eu gritei
disseram-me para ser bela
é preciso sofrer
depois o cabelo queimou-se
não voltou a crescer
tive de passar a andar com uma peruca
para ser bela é preciso sofrer
mas sofrer não nos faz forçosamente belas
um sofrimento não implica como consequência
uma recompensa
uma dor de dentes pode comover a nossa mãe
que para nos consolar sem saber de quê
nos dá um rebuçado
mas o rebuçado ainda nos faz doer mais os dentes
a consequência de um sofrimento
pode ser outro sofrimento
a causa é posterior ao efeito
o motivo do sofrimento é uma das consequências
do sofrimento
os papelotes são uma consequência da peruca


Adília Lopes, Obra, ed.Mariposa Azual, poema da p. 161

Tuesday, March 06, 2007

As Patas Posteriores das Pulgas


Lançamento do livro da poeta aNa B


as patas posteriores das pulgas


7/março/2007

18h

Teatro Académico Gil Vicente (TAGV)



Apresentação do livro pela Professora Doutora Graça Capinha


Sunday, March 04, 2007

as coisas da vida

as coisas da vida ocupam muito espaço. pelo menos é o que dizem a minha secretária, mesinha de cabeceira, estantes, roupeiro, gavetas.

Friday, March 02, 2007

Oficina de Poesia- a martelar palavras desde 1997

é verdade! comemoram-se os 10 anos de existência da oficina de poesia!

eis o cardápio das celebrações:

2/Março
Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra)

17h30: Inauguração da exposição "oficina de Poesia-10 anos"

18h: Leitura de poemas integrada na Semana Cultural da Universidade de Coimbra, sob o tema "o direito a uma escrita solar"

Tuesday, February 27, 2007

ver as coisas de outra perspectiva

"nos ensinamentos maniqueístas, deus não é o verdadeiro ser: é o que nasceu em segundo. o primeiro a nascer é o monstro, o demónio a quem deus, o usurpador, destronou, através de truques e práticas sabidas, expulsando-o para o mar...Ou seja, um deus enganador identifica o demónio com o Mal, embora este exista para criar a existência infinita com direito a morrer, em vez de uma existência finita com a imposição de uma morte inevitável"

Eric Mottram, "Os meios ao dispor da Poética" in Revista Crítica de Ciências Sociais, nº47, p.46

[quinze de abril]

há vermelho no branco
a carne aberta pelo linho
um sangue surdo para fora do tempo

lavo os olhos no negro
que torna vermelho o linho

Pedro Sena-Lino
p. 23 de Deste Lado da Morte Ninguém Responde, edições Quasi, 2005

sobre o autor pode ler-se o essencial na badana:
Pedro Sena-Lino (n.1977), sexualmente interessado em Deus.

Monday, February 26, 2007

amor em alemão

"nós não damos rosas, damos beijos"

Saturday, February 24, 2007

Adega de Pegões (Trincadeira)

Há em todos os objectos uma ausência iminente.

Deixa

-se revelar pela luz Fixa

-se na forma até à persistência da visão

o que não diz um casaco pendurado no hall.de que cor são os meus cabelos quando ditos pelos meus ganchos abandonados na mesa branca.

Thursday, February 22, 2007

coliquação

UM DIA AO ACORDAR VIU QUE TINHA UMA FERIDA
NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE FÓSF
ORO NO DIA SEGUINTE AO ACORDAR VIU QUE TIN
HA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA
BARRIGA DE MOSCA NO DIA SEGUINTE AO ACORDA
R VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TA
MANHO DE UM OLHO DE VACA NO DIA SEGUINTE A
O ACORDAR VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABE
ÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE RATO A FERI
DA ALARGOU ALASTROU AO CORPO TODO E PASSAD
AS UMAS SEMANAS ERA COMO UM PÊSSEGO PODRE
SEM CAROÇO MAS DA MESMA COR E CHEIRANDO TÃ
O MAL QUE A ALMA O ABANDONOU DEFINITIVAMENTE.


Alberto Pimenta, Obra Quase Incompleta, ed. Fenda, p. 77

gestos antigos

há uns dias, um conjunto de circunstâncias que não carecem de ser especificadas, levaram-me a entrar numa cabine telefónica, levantar o auscultador, deixar que a máquina devorasse as minhas moedas, marcar o número, e esperar. Soube-me bem. Não sou um arquétipo do saudosismo bacoco português, contudo, arrogo-me a afirmar "tinha saudades" desta sequência de pequenos gestos, (felizmente?) substituídos pelo pragmatismo dos telemóveis.
por falar em gestos antigos, isto lembrou-me a minha ida natalícia aos correios, (percurso quase esquecido), onde pude ainda ouvir o inusitado pedido dum senhor velhinho para a senhora dos correios:
"ó menina, escangalhe-me aí esta nota" [10euros].

Tuesday, February 20, 2007

Aviso

avisa(m)-se @(s) utente(s) deste blog, que o funcionamento do mesmo se processa por espirros mentais, o mesmo é dizer que após grandes períodos de afasia , se seguem outros tantos de logorreia.
desde já muita obrigada pela atenção!
os melhores cumprimentos

Conformite

a nova edição/configuração do jornal Público revela um sintoma que é causa de uma das três mais frequentes doenças nacionais; a saber, a conformite, as doenças de coração e o zapping de domingo.
"eu quero outrar-me, outrar-me,
outrar-me perdidamente"

Fernand@ Pessoa, em flagrante "delitro", a brincar com os poemas de florbela espanca

a ordem das coisas

é da natureza dos anéis, serem perdidos por dedos desamados.

é da natureza dos arlequins serem tristes como carnavais mal disfarçados.



é da natureza dos chapéus ocultarem cabeças-de-lâmpadas-fundidas.


é da natureza do público das coisas não existir, e é da natureza das coisas existir sem público.


é da natureza d@s ma(u)s poetas escreverem metáforas parvas às tantas da madrugada, em lugar de tomarem um xanax, como fazem as pessoas de bem.

Saturday, February 17, 2007

Provérbio Africano

Enquanto os leões não tiverem historiadores, a história será sempre dos caçadores.







Monday, February 12, 2007

História Natural

os pés pisam o palco preto.
a nudez inicial transforma-se em movimentos de animal ferido.
finda a música fica a respiração assimétrica dos corpos em fuga.

De vestido em vestido volta-se a contar a Estória
- natural-izada de um bolo de chocolate.

Elas renascem dos sapatos de salto
- alto como o sol invisível que lhes puxa os fios de marionetas antigas
e vê-se o medo nos músculos
- em pontas.

Há que calcular o tempo entre a muda da primeira camada de pele
e a próxima.

Os homens-cabide fixam residência
num silêncio de três quartos
enquanto os cães negros se lançam por dentro
da madeira.

Uma cadeira sem gente, sem roupa, sem som
- permanecerá “cadeira”?

Monday, February 05, 2007

DE UM MOMENTO PARA O OUTRO PODE ENTRAR


um pássaro que levante o céu.
Alexandre O'Neill

Confiança

Em Salónica conheço alguém que me lê.

E em Bad Nauheim.

Já são dois.


Gunter Eich

Rosa do Mundo-2001 poemas para o futuro