Wednesday, December 19, 2007
uma coisa
pequenina
inclassificável
.
depois
continuava uma coisa pequenina.
contudo
cresceu em quantidades extremamente razoáveis
para se poder dizer que
não cresceu
assim tanto.
ao que parece, não era um problema, e ensaboava os olhos todas as manhãs.
não percebia muito dos outr-iços que encontrava nos passeios golpeados assimetricamente para o lado de cá do ruído dos cabelos.
tinha recursos de azul que escorriam pelo canto da boca delineada a pixel.
pelos anos recebeu uma represália de orquídeas.
adormeceu a meio da morte, com tudo aquilo a que tinha direito
e mais um botão.
Tuesday, December 04, 2007
in memoriam
macerados na salga
das flores. livros. orações
remendos azuis na rebentação
cumprem o mar.
Saturday, November 17, 2007
Saturday, November 10, 2007
às x
já nem cabia na mala
ficava uma história com a gola a pender, ou uma pata de fora ou desgastavam-se os punhos de um provérbio sem botões
de punho
E depois ninguém podia dizer que fora por sua culpa que se perderam os mitos dos grandes ómens civilizadores educadores e desoutrificadores
.
pois não cabiam na mala-que-não-cabia
no porão
que era imenso e de ébano.
.
nem soprando no café confinado à chávena de retalhos de louça de Guell
poderia perceber a origem dos furacões
quanto mais a teimosia da mala onde não coubera – cabia – exígua -
.
ainda pensou na decantação da violeta de cristal por meio de um composto
orgânico
não
restava-lhe apenas
o cheiro a canela
açafrão
cardamomo
restava-lhe apenas
vestir o velho trajecto das especiarias
e entrar no caleidoscópio
. nú
Sunday, November 04, 2007
Friday, October 26, 2007
Wednesday, October 24, 2007
Aviso
espera-se que não haja palavras tingidas,
nem outra espécie de feridos.
ainda assim, há qualquer coisa de
encardido
na linguagem.
Wednesday, October 17, 2007
102º
depois o silêncio.
de
pois
o silêncio
do silêncio
do de pois
o silêncio
de um pássaro aberto em arquitecturas de folha
de um pássaro aberto em estradas de espuma e gerânios
depois o silêncio.
a dividir
o silêncio
do jardim da casa
onde habitam os monstros embelezados pela grande máquina de luz
depois o silêncio.
servido a talher
Thursday, October 11, 2007
101º
a grande caixa cardíaca abriu-se de corvos
depois.
ardeu a noite toda
Wednesday, October 10, 2007
100 mensagem
100. iluminar
um tropeço de poros
100. iluminar
instrumentos de-escrever- cada-vez-menos-palavras
100. iluminar
uma ambiguidade de estuques
100. iluminar
uma caixa de bolos
100.
migalhas
Tuesday, October 02, 2007
Ela. Quero cardar-me na tua pele.
uma inclinação de salivas
sob os cilícios da chuva
uma órbita de vermelho
sob os dedos dilatados
uma sucção de luzes
sob as coxas dos pássaros
uma queda de bocas
sob o carpir dos lençóis
uma paciência de líquidos
sob o início do vértice
Ela. Sabias que.
a
estátua da velha praça de medos
é
uma raiz de thuía
a
esculpir
o
barulho decapitado
- no fim das abóboras
era matá-La.
agonsalhos de outubro
Tens de ter mais confianças em ti! Põe a primeira que o carro está a ir abaixo abaixo.
Sei lá, acreditar mais em ti, nas tuas capacidades! Não achas que isso é sal a mais?
Mostrar aos outros o que vales, erguer a cabeça! Essa roupa não te fica bem, faz-te as ancas mais largas do que já são.
Tens de fazer valer o teu ponto de vista! Não tens razão, o que estás a dizer não tem sentido nenhum.
Saturday, September 29, 2007
sabes as regras não podes dizer .a perda. dizer .a perda. é perder duas vezes
sabes as regras .a perda. um homem não pode perder duas vezes .a perda.
sabes as regras podes brincar não podes dizer podes podes dizer a perca
sabes as regras .a perda. baixinho como se estivesses debaixo de água
sabes as regras a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca a perca
sabes as regras até que tudo seja somente um peixe
sabes as regras um grande peixe de memórias-salitre a decorar a sala
sabes as regras .a perda. um imenso sábado de morrinha na cama desfeita de manhã de single sheets tão feios mas eram .dela. sabes as regras não podes dizer single sheets tão feios eram da perca a perca que entrou no jogo a jogar um par de disponibilidade de olhos na altura a “cabeça do futuro” perguntou não tens medo da disponibilidade e respondeste tenho medo dos olhos e jogaste um ás de corações é a tua vez
sabes as regras .a perda. as escamas parecem-te mais bonitas que nunca
sabes as regras .a perda. mais bonitas o nunca que por acaso está a acontecer agora .a perda. debaixo de água
Friday, September 28, 2007
1. Quase Reflexão sobre Afelicidade
Com licença menina! Os olhos loucos a corar de azul, e um sorriso de sol-do-dia, que no Outono é mais frio e chove, e o cartão desfaz-se com mais facilidade. Ainda por cima tem uma perna em desajustamento rotativo, e coxeiam-lhe as roupas, coxeia-lhe a boina. Está satisfeito! Pescou alguma coisa no caixote do lixo e ainda foi a tempo de apanhar o autocarro. São 11h da manhã e corre-lhe bem o dia! Com licença, minha senhora! E a senhora dá licença. E ele senta-se. De uma simpatia, de uma delicadeza, de uma educação, menos rugosas que as rugas. Pergunto-me se é feliz. Pergunto-me se me perguntaria se ele é feliz se ele fosse outra pessoa, a vestir Normality for Men. Então para ser justa, para não discriminar ninguém, pergunto-me se a senhora que está ao lado dele é feliz.
E se a outra senhora que está atrás da referida primeira, é feliz.
E o senhor, e o rapaz, serão felizes? Pensarão se são felizes? Pensarão sobre a forma e o conteúdo, o estado e o porvir da situação de felicidade da senhora que está à frente, e que poderá ser ou não, muito pouco ou nada, feliz?
Depois pergunto-me, quem dali, a viajar naquele autocarro, àquela precisa hora, será feliz. Depois, para ser mesmo muito justa, pergunto-me
Outra-Coisa-Qualquermente-Inútil.
2. Breve Inquérito sobre Afelicidade
A. e você: já foi feliz hoje?
a) sim
b) não
c) mais ou menos
d)não penso sobre isso
B. Se na pergunta A respondeu a), volte a ler o texto inicial, do início ao fim, ou seja, todo! Se respondeu b) passe directamente ao ponto C deste inquérito. Se respondeu c) pare, escute e olhe, repense e reformule a resposta. Se respondeu d), congratule-se, vá à sua vida, obrigada pela atenção dispensada, não volte a responder a inquéritos, tenha uma boa tarde.
C. Este inquérito foi breve, para que não desperdice afelicidade, para que tenha tempo para afelicidade, no fundo e à superfície, não queremos atrapalhar a sua AFLICIDADE!Porque o que está aqui em jogo, é AFLICIDADE de tod@s @s portugueses!!!
Thursday, September 27, 2007
Tuesday, September 25, 2007
Noites Brancas
She esperava-o. Outro encontra-her. She continua a esperá-him. He não escreve há um ano. Porque não? Porque ficou assim combinando, não perguntei porquê. How Wise! She acredita que he vem. O outro crê que he não virá. She continua a acreditar que he vem. O outro jura que he não virá. Passámos por aqui, estivemos naquela ponte, e foi neste sítio que combinámos encontrar-nos. He não vem.
She leaves
looking like a boat
she leaves looking like a boat
she leaves looking like a boat that looks like a
barco de mar.mories
barco de night.mares
barco de flor.ments
barco de sila-byes
.th.e.and.
(de repente começa a voar.
Thursday, September 20, 2007
Tuesday, September 18, 2007
Agora tem uma expressão indiferente, distraída, como a dos passageiros obrigados a esperar muito tempo pelo comboio. Diz-lhe. Um dia faço qualquer coisa.
. um dia faço qualquer coisa
. um dia faz-se de qualquer coisa
. um dia desfaz-se por qualquer coisa
. um dia de qualquer coisa .como. qualquer coisa de um dia
Não tem paciência nem tempo para arranjar o cabelo, mete desajeitadamente as mechas soltas para trás e vai-se embora.
Parfois
Wednesday, September 12, 2007
pequenos apontamentos de ironia na rua
2. Ele está sentado no degrau, mas as suas calças cinzentas interrompem o azul e branco da calçada do passeio, o que por sua vez obriga os transeuntes não daltónicos a interromper, irremediavelmente ou não, os seus passos de quotidianeidade . Terá as pernas quentes de mais para este dia de verão tardio, o que não parece explicar por si as rugas, a preocupação das mãos pendentes no regaço. Olho. Um rosto triste, triste de mais para um dia de verão, triste demais para um homem só. Um boné branco, descuidado, esconde-lhe a inclinação resignada da cabeça, um boné que tem estampado "dá-lhe gás".
Tuesday, September 11, 2007
A propósito do 11 de Setembro ou os mortos que não figuram no jornal
Saturday, September 08, 2007
Setembro
.para o azul
são
os começos-de-alguma-coisa
mais ou menos
.azul
Friday, August 31, 2007
derivação a partir do poeta mário saa
por cima
dos gestos
abóbadas de obsessões de língua fria
terminam
no delíquio da cabeça a desmoronar-se em fieiras de orquídeas
por cima dos gestos
os gestos
molhados por dentro
gelhas de arrependimentos aquáticos
torturados como um vime pelo gosto do desfazer e o amor latente, cor de medronhos.
, vá de estalar.
os gestos
espargidos
na mesa de tinta vermelha
depois de descascados são caroços de granito
que se deitam à terra
esperando uma liturgia de rosas
para dizer -
“dá-me um dilúvio de fábulas
onde possa atear um batel de pergaminhos”
por cima
dos gestos
longinquamente algum país sombrio
de capital rouca e bigodes orvalhados
por cima dos gestos
os gestos
habitados por anjos de mosto com colares de musgo
a acenar num enorme balão veneziano
vêm de longe transbordar em linha d’ânforas
, vinte anos depois, como no cinema.
Sunday, August 12, 2007
to not-do list
- não procriar antes de haver paz na Terra bem como protocolos anti-poluição assinados por todos os países
- não comer chocolates sem ter dinheiro para fazer uma lipoaspiração
- não viajar sem boa música
-não escrever listas estúpidas e worthless
Thursday, August 02, 2007
Which is all that you can know on this side of the blue
(...)
And the rest of our lives will the moments accrue
When the shape of their goneness will flare up anew
Then we do what we have to do(-re-loo-re-loo)
Which is all that you can do on this side of the blue
Wednesday, August 01, 2007
hoje
as pequenas coisas simples
que eram até hoje
simples pequenas coisas
somente
simples coisas pequenas
ou, quando muito,
pequenas simples coisas
em tornam se em
hoje
tornam-se
hoje:
grandes e complicadas
complicadas e enormes
enormes e complicadíssimas
complicadíssimas e
possivelmente verdes.
porém, todavia, contudo
não deixaram de ser.
coisas.
hoje.
Monday, July 30, 2007
viagens
Monday, July 23, 2007
Derrida e ToyStory
ou
"para o infinito... e mais além!"
“(…) Buzz opera num mundo virtual, mas isso não faz com que as coisas deixem de acontecer – pelo contrário. Nós sabemos que Buzz não pertence a uma aliança intergaláctica (…) mas o facto de ele acreditar nisso (…) produz muitas acções e eventos (…) no mundo actual”.O virtual tem o poder de produzir acontecimentos. Como Derrida chama, a actuavirtualidade – o actual virtual – faz com que coisas aconteçam. É, pois, esse o sentido de fazer uma política do virtual: esta tem um poder performativo, esta permitirá que certos acontecimentos tenham lugar.
in A Derrida Dictionary, Niall Lucy
Wednesday, July 18, 2007
Friday, June 29, 2007
Wednesday, June 13, 2007
Monday, June 04, 2007
desabafo a seis tempos
sento-me na grande mesa da vida e olho para o copo do tempo: meio cheio ou meio vazio?
não sei se chove lá fora.
sei que não aprendi a falar nenhuma nova língua
nem me tornei uma pessoa melhor
nem li o que podia
fortizzimo, ma non troppo
Thursday, May 31, 2007
over and over and over and over and over
ela passa os crepúsculos em catálogos de quinquilharia
pensando como seria feliz se tivesse mais um roupeiro onde
-se arrumar se arrumar se arrumar se a marrar se a marrar se marrar
ela passa as tardes em queixumes de chocolate e café
pensando como seria feliz se não tivesse queixumes
ela passa as manhãs em limpezas sísificas
pensando como seria feliz se as narinas da casa não espirrassem tanto pó
pensando como seria feliz se
pensando como seria feliz
pensando como seria
over
cata-estrofe
do outro lado do televisor, em formato pb, as bocas esfaimadas dos dias acercaram-se do talher que por esta altura já cheirava a peixe assado, sonhando com um ovo bem cozido.
Tuesday, May 29, 2007
Monday, May 21, 2007
Tuesday, May 15, 2007
Jantar de nãos
hoje não faço anos.
comemoro não anos . anos não comemoro
faço um jantar de nãos.
sem velas.
para me des lembrar quanto tempo não me falta
para desacordar
sem dizer adeus aos meus sapatos.
Monday, May 14, 2007
?missa em si
?si-belius ou o grande lobo da finlândia
?m-is-e-en-scène duma chávena partida
?mis-si-ssipi ou o grande engolidor de chamas
"esquece", disse-lhe, "dá-me antes um final"
?mi
?miss T. eriously.
?miss U.
"esquece", disse-lhe, "um ponto final fica just fine".
Saturday, May 12, 2007
Friday, May 11, 2007
Saturday, May 05, 2007
Sobre Literatura
“Toda a literatura é assunto de letras paradas fazerem ou não as coisas do mundo moverem-se.
(…)
Mas agir é diferente. Agir envolve alfabetos fisiológicos, construções gramaticais, humanas, e não só, que estabelecem ligações matemáticas e respiratórias entre, por exemplo, a necessidade de um organismo se alimentar e os projectos que a cabeça de um homem pode ter.
(…)
as únicas acções existentes na escrita são o escrever e o apagar. Se eu escrever agora ele corre, a única acção que existiu nesta frase foi a acção de escrever: agora ele corre.
(…)
Toda a escrita, pelo menos a decente, ou seja: a magnífica, toda a escrita instala, é certo, uma promessa de movimento, de acção.
(…)
Mas se existem dois pontos é porque existe uma distância entre eles que permite a distinção. E uma promessa de vida imediatamente a seguir concretizada - como sucede na grande literatura - é ainda um ponto que se sabe separado do Grande Ponto: isto é: da vida clássica, do sítio onde os nomes não existem, mas existe a morte, a doença, o acidente absolutamente bruto que pode levar em definitivo aquele com quem hoje queríamos conversar sobre algo inútil.”
Gonçalo M. Tavares
A colher de Samuel Beckett Ed. Campo das Letras
Sunday, April 29, 2007
"death is the mother of beauty" Wallace stevens
Então, numa manhã a Morte sorriu mostrando nos lábios o seu carácter perfeito, isento de mesquinhez; beijou-me a boca, as pernas, o coração. Perturbou-me.
No meu interior países fervilhavam, milhões de rostos se viraram à luz:
tudo era claro como nunca sucedera.
Começara outra vida: dera-se a iluminação"
Isabel de Sá Repetir o Poema, ed.quasi
Friday, April 27, 2007
Monday, April 23, 2007
Friday, April 20, 2007
work ON progress
Salazar é um fanático.
levanta-se cedo para nutrir o gosto pelo kitsch através da adoração iconófila das imagens de nossa senhora made in china.
Salazar é um fanático.
um sentimentalista incurável a quem se lhe comove a pupila direita sempre que o tímpano esquerdo pressente os primeiros acordes do hino.
Salazar é um fanático.
quer libertar os seus vizinhos do ócio, da podridão moral e económica. para o bem de todos.
Salazar é um fanático.
historiadores, biógraf@s, sociólog@s, psicólog@s, e cabeleireir@s não descobriram que o grande problema de Salazar foi a grande ausência de sentido de humor. Os fanáticos são sarcásticos.
Rir é uma forma de se outrar.
Um homem sem sentido de humor só podia ter uma ideia sem graça nenhuma, uma ideia de onde não se podiam colher cravos, nem qualquer outra espécie de VIDA. os impérios tal como as igrejas, nascem sob o sol da morte.
Dizem os cientistas que a perda das certezas elementares da vida pode ter originado o meio século mais contaminado de idei-ulogias. Portugal contraiu o vírus.
Depois veio a música.
eram vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos no relógio da rádio.
De quem é esta terra?
nossa.
Há uma promessa, uma promessa que é um cão de faro tapado.
Tuesday, April 17, 2007
um mês e um dia
sem mais delongas
o peixe-que-queria-ser-um-tira-linhas
Wednesday, March 14, 2007
adília lopes para mim
nunca choraremos bastante
termos querido ser belas
à viva força
eu quis ser bela
e julguei que para ser bela
bastava usar canudos
pedi para me fazerem canudos
com um ferro de frisar e papelotes
puxaram-me muito pelos cabelos
eu gritei
disseram-me para ser bela
é preciso sofrer
depois o cabelo queimou-se
não voltou a crescer
tive de passar a andar com uma peruca
para ser bela é preciso sofrer
mas sofrer não nos faz forçosamente belas
um sofrimento não implica como consequência
uma recompensa
uma dor de dentes pode comover a nossa mãe
que para nos consolar sem saber de quê
nos dá um rebuçado
mas o rebuçado ainda nos faz doer mais os dentes
a consequência de um sofrimento
pode ser outro sofrimento
a causa é posterior ao efeito
o motivo do sofrimento é uma das consequências
do sofrimento
os papelotes são uma consequência da peruca
Adília Lopes, Obra, ed.Mariposa Azual, poema da p. 161
Tuesday, March 06, 2007
As Patas Posteriores das Pulgas
Sunday, March 04, 2007
as coisas da vida
Friday, March 02, 2007
Oficina de Poesia- a martelar palavras desde 1997
eis o cardápio das celebrações:
18h: Leitura de poemas integrada na Semana Cultural da Universidade de Coimbra, sob o tema "o direito a uma escrita solar"
Tuesday, February 27, 2007
ver as coisas de outra perspectiva
Eric Mottram, "Os meios ao dispor da Poética" in Revista Crítica de Ciências Sociais, nº47, p.46
[quinze de abril]
a carne aberta pelo linho
um sangue surdo para fora do tempo
lavo os olhos no negro
que torna vermelho o linho
Pedro Sena-Lino
p. 23 de Deste Lado da Morte Ninguém Responde, edições Quasi, 2005
sobre o autor pode ler-se o essencial na badana:
Pedro Sena-Lino (n.1977), sexualmente interessado em Deus.
Monday, February 26, 2007
Saturday, February 24, 2007
Adega de Pegões (Trincadeira)
Deixa
-se revelar pela luz Fixa
-se na forma até à persistência da visão
o que não diz um casaco pendurado no hall.de que cor são os meus cabelos quando ditos pelos meus ganchos abandonados na mesa branca.
Thursday, February 22, 2007
coliquação
NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE FÓSF
ORO NO DIA SEGUINTE AO ACORDAR VIU QUE TIN
HA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TAMANHO DE UMA
BARRIGA DE MOSCA NO DIA SEGUINTE AO ACORDA
R VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABEÇA DO TA
MANHO DE UM OLHO DE VACA NO DIA SEGUINTE A
O ACORDAR VIU QUE TINHA UMA FERIDA NA CABE
ÇA DO TAMANHO DE UMA CABEÇA DE RATO A FERI
DA ALARGOU ALASTROU AO CORPO TODO E PASSAD
AS UMAS SEMANAS ERA COMO UM PÊSSEGO PODRE
SEM CAROÇO MAS DA MESMA COR E CHEIRANDO TÃ
O MAL QUE A ALMA O ABANDONOU DEFINITIVAMENTE.
Alberto Pimenta, Obra Quase Incompleta, ed. Fenda, p. 77
gestos antigos
por falar em gestos antigos, isto lembrou-me a minha ida natalícia aos correios, (percurso quase esquecido), onde pude ainda ouvir o inusitado pedido dum senhor velhinho para a senhora dos correios:
"ó menina, escangalhe-me aí esta nota" [10euros].
Tuesday, February 20, 2007
Aviso
desde já muita obrigada pela atenção!
os melhores cumprimentos
Conformite
a ordem das coisas
é da natureza dos arlequins serem tristes como carnavais mal disfarçados.
é da natureza dos chapéus ocultarem cabeças-de-lâmpadas-fundidas.
é da natureza do público das coisas não existir, e é da natureza das coisas existir sem público.
é da natureza d@s ma(u)s poetas escreverem metáforas parvas às tantas da madrugada, em lugar de tomarem um xanax, como fazem as pessoas de bem.
Saturday, February 17, 2007
Provérbio Africano
Monday, February 12, 2007
os pés pisam o palco preto.
a nudez inicial transforma-se em movimentos de animal ferido.
finda a música fica a respiração assimétrica dos corpos em fuga.
De vestido em vestido volta-se a contar a Estória
- natural-izada de um bolo de chocolate.
Elas renascem dos sapatos de salto
- alto como o sol invisível que lhes puxa os fios de marionetas antigas
e vê-se o medo nos músculos
- em pontas.
Há que calcular o tempo entre a muda da primeira camada de pele
e a próxima.
Os homens-cabide fixam residência
num silêncio de três quartos
enquanto os cães negros se lançam por dentro
da madeira.
Uma cadeira sem gente, sem roupa, sem som
- permanecerá “cadeira”?
Monday, February 05, 2007
Confiança
Em Salónica conheço alguém que me lê.
E em Bad Nauheim.
Já são dois.
Gunter Eich
Rosa do Mundo-2001 poemas para o futuro